Astrônomos mapeiam superaglomerado da nossa galáxia. São 520 milhões de anos-luz de diâmetro e massa de 1 quatrilhão de sóis
RIO - O Grupo Local, conjunto de galáxias ao qual pertence a Via Láctea,
ocupa apenas uma pequena esquina na periferia de um superaglomerado com cerca
de 520 milhões de anos-luz de diâmetro que abriga outras 100 mil galáxias com
uma massa total estimada em mais de 100 quatrilhões de sóis. Batizado Laniakea
— palavra que une os termos havaianos para “céu” (lani) e “espaçoso”,
“imensurável” (akea) —, esse superaglomerado teve seus limites identificados e
mapeados pela primeira vez por um grupo internacional de astrônomos liderado
por R. Brent Tully, da Universidade do Havaí, principal autor de artigo sobre o
estudo, publicado na edição desta semana da revista “Nature”.
— Finalmente estabelecemos os contornos que definem o superaglomerado de
galáxias que chamamos de nosso lar — diz Tully. — Isso não é muito diferente de
descobrir pela primeira vez que sua cidade natal é na verdade parte de um país
muito maior que faz fronteira com outras nações.
Medindo o “imensurável”
Para medir o “imensurável” e chegar ao endereço exato da Via Láctea na
nossa vizinhança cósmica, Tully e colegas analisaram levantamentos astronômicos
com dados sobre distância e movimento relativo de mais de 8 mil galáxias no
Universo próximo. Com isso, eles puderam descontar os efeitos da expansão do
espaço — em ação desde o Big Bang e que aparentemente está sendo acelerada pela
misteriosa energia escura — para chegar ao que chamaram de “velocidades
peculiares” dessas galáxias.
Os resultados dessas “velocidades peculiares” foram passados então por
um algoritmo especial que revelou os fluxos gerais de movimento das galáxias
rumo a diferentes “poços gravitacionais” em um volume que se espalha por mais
de 1,5 bilhão de anos-luz de diâmetro, tal como a água flui de montanhas por
diferentes caminhos e riachos para vales separados. Isso permitiu aos
cientistas estabelecer os contornos e limites das várias “bacias” no nosso
canto do Universo, que, além do Laniakea, abriga os também superaglomerados
Peixes-Perseu, Coma e Shapley, assim como o papel do chamado Grande Atrator,
região da nossa vizinhança cósmica que, como o nome indica, parece atrair as
galáxias à sua volta. Problema que desafiou os astrônomos nas últimas três
décadas, o Grande Atrator seria o poço gravitacional principal de Laniakea,
influenciando o movimento de todas as galáxias do nosso superaglomerado.
— Em uma massa de terra, a água flui em determinadas direções e, mesmo
que o terreno seja muito plano, ela “sabe” qual é a direção morro abaixo —
compara o astrônomo.
Tully destaca, porém, que o Grande Atrator e, por consequência, Laniakea
como um todo também parecem estar sendo “puxados” na direção do superaglomerado
de Shapley, a 650 milhões de anos-luz de distância, o que abre a possibilidade
de ambos serem parte de uma estrutura ainda mais gigantesca. Para entender o que
está acontecendo neste caso, porém, será necessário obter os dados sobre
distância exata e movimento relativo (e, com isso, as “velocidades peculiares”)
de galáxias bem mais longínquas que as dos levantamentos usados no estudo,
trabalho ainda mais desafiador devido aos próprios erros inerentes dessas
medições com as tecnologias atuais — erros que aumentam quanto mais longe está
a galáxia.
— Encontramos nosso endereço local, mas também já observamos que nossa
base de atração está sendo puxada por outra base de atração e não entendemos
realmente o porquê disso — reconhece Tully. — Ainda não vimos os limites
externos de nossos (superaglomerados) vizinhos nem fomos longe o bastante para
compreender completamente o que provoca toda a movimentação de nossa galáxia.
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